quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Diário de Bordo: 1º Mês

Coisas que Ninguém me Contou Sobre a Cirurgia.

1 – Tiraram meus pulmões e venderam no mercado negro

Depois que eu saí da cirurgia e fui pra sala do pós-operatório, eu não conseguia respirar. Dois meses com o fisioterapeuta me ensinando a porcaria da respiração cachorrinho mas não tirou um minuto pra me falar como seria difícil respirar depois da cirurgia. Tudo o que ele me disse era que eu precisava exercitar minha respiração para o pós-operatório, pois eu seria intubada na mesa e eu tinha que ter pulmões fortes e blábláblá. Ele bem que podia ter me avisado o verdadeiro perigo da coisa: olha, Stephanie, você corre o risco de ter colapso dos pulmões, e o médico vai injetar ar dentro da sua caixa torácica durante a cirurgia, então vai ser difícil respirar. Agora, vai, mais uma seqüência de vinte. Mas não. Descobri isso quando perguntei pra uma enfermeira porque cargas d’água tava difícil pra respirar.

2 – Dreno: O Alien

Ouvi o médico falar do dreno o tempo todo, o que era e tal, e que eu ia ficar com o dreno por dez dias após a cirurgia. Até aí, beleza. Só que aquela merda incomoda. Uma porra de um tubo saindo de suas entranhas, lógico que incomoda. E muito. Você não consegue dormir direito, porque ele mexe e dói. Você não consegue andar reta porque ele mexe e dói. Você mal consegue fazer o curativo porque ele mexe e dói. Acho que foram os dez dias mais demorados da minha vida.
Sem contar que o meu médico, carinhosamente apelidado por minha irmã e eu de Dr Simpatia, na hora de tirar o dreno, arrancou (!!!!) o curativo, com pontos e tudo, e puxou o dreno sem dó. Olha, ele só não ganhou um soco porque doeu pra caralho.

3 – Comi Um Sapato

Ah, os elogios. “Nossa, você emagreceu tanto!” é o que eu mais ouço. É, valeu, tia, mas não entusiasma não porque isso aqui não veio sem um preço. Acordo todo dia de manhã com a boca grossa e com gosto de pé. Não me pergunte porquê. Acho que tem alguma coisa a ver com o fato de eu não comer nada e minha saliva fica tipo “não vamos trabalhar? Então você vai ver só uma coisa...”. Acho que nunca gastei tanto com Listerine na minha vida.

4 – Virei Bebê

Não sei se eu comentei, mas eu não como. Faz um mês. Não, não se assuste, eu não estou fazendo greve nem to passando fome. Na verdade, eu não sinto fome. At all. Mas eu sinto uma sede desgraçada, e está relacionada ao item 3. Dá-lhe água. Só que, como só com água o corpo não pára em pé, eu tenho que tomar isotônicos (Gatorade, oi) para repor sais minerais, sucos naturais e papinha. É. Papinha. Tipo de bebês. Porque meu estômago, que atualmente é do tamanho de uma tampinha de garrafa, ainda não produz suco gástrico. Por isso, nada de alimentos sólidos. Então, alimentos têm que ser batidos e coados. Papinha.
 Só que papinha enjoa. Não é a toa que tem alguns bebês que cospem papinha na sua cara. Chega num ponto que você olha pra sua refeição batida no liquidificador e pensa “eca, que gosma!”. E não é tudo que eu posso comer, então as opções são meio limitadas, e é onde eu acabo por não comer durante o dia. O que me leva ao próximo item.

5 – Minha Pressão Não Sabe Brincar

Se cair uma caneta no chão, ela vai ficar lá. Porque se eu abaixar pra pegar, minha pressão acha que tá numa montanha russa e vai com tudo pra baixo.
Por falta da ingestão de nutrientes, sais e whatever, eu fico constantemente cansada e fraca (Isso também é um pouco o meu corpo se ajustando à sua nova forma e tal). E minha pressão abaixa com facilidade, o que me deixa tonta, com visão turva e, muito raramente, com as pernas meio bambas. Por isso, eu passo o meu dia todo sentada. Mesmo quando eu não estou fraca, se eu ficar muito tempo em pé, eu começo a me sentir meio tonta e um pouco enjoada. Não que eu tenha nada no estômago pra vomitar, mas mesmo assim a sensação de enjôo está presente.

6 – Novembro, o mês de mil dias

E a sensação de que o tempo não passa? Chezuis, parece que faz um ano que eu fiz a cirurgia, mas não. Fazem trinta e sete dias, só.
Minha próxima consulta é no dia três, e parece que ele não quer chegar. Chega o Natal mas não chega dia 3 de dezembro.

Porque eu quero que minha consulta chegue? Bem, porque vai ser quando o Dr Simpatia vai começar a me liberar pra viver minha vida de novo. Dirigir, me exercitar, e se Zeus quiser, mudar minha dieta. Porque viver de papinha e Gatorade é o ó.