segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Quem É Frágil Agora, Hollywood?

Não posso dizer que sou cinefila. Simplesmente gosto de filmes, mas não sou apaixonada nem sei de cor os nomes de diretores, produtores, atores e essas coisas. Aprecio filmes cult, gosto de adaptações, amo filmes de ação, aventura e romance, e tenho uma quedinha por filmes de terror.
Mas os filmes que eu mais gosto são os que têm a personagem principal do gênero feminino sem um enredo que gire em torno de um romance. E estes são particularmente raros de se encontrar. Quase sempre que a personagem principal é mulher, a trama do filme é meio obvia e o gênero é quase sempre romance. Há várias discussões atualmente, principalmente com a enorme demanda de filmes de super-heróis saindo, se haverão filmes com super-heroinas como as principais, e se há demanda para esse tipo de filme. Bem, depois dos fracassos de bilheteria que foram Elektra e Mulher-Gato, sobre filmes baseados em quadrinhos eu não sei, mas há filmes em que as mulheres brilham sem um parceiro transpirando testosterona que as salve, e eu quero apresentar os meus cinco filmes Girl Power favoritos.

12 Horas – Esse é um filme de suspense/drama de 2012, e eu me surpreendi com ele. Sabe um daqueles filmes que você nunca ouviu falar, mas resolve dar uma chance? Pois é, 12 Horas é um desses. Estrelado pela loiríssima Amanda Seyfried, é a história de uma garota, Jill, que é desacreditada pela polícia quando diz que foi seqüestrada de casa por um homem pelo simples fato de ela ter histórico de instabilidade mental. Quando a irmã de Jill, Molly (Emily Wickercham), desaparece, ela começa a suspeitar que o seu seqüestrador voltou e quer vingança por ela ter escapado. Como ninguém acredita nela, a própria protagonista vai seguindo as pistas para encontrar a irmã, que ela acredita que irá morrer ao por do sol – daí o nome, ela tem doze horas para encontrá-la. E o que só adiciona para eu amar esse filme, Seyfried não tem par romântico na trama e não tem medo de dar uns tapas em ninguém.


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Nunca Mais – Outro filme de suspense/drama, e esse é pra deixar todas as mulheres orgulhosas, e eu vou lhes dizer o por quê. A história de Nunca Mais é a realidade de muitas mulheres; uma simples garçonete, Slim, interpretada pela Jennifer Lopez, se apaixona por um cara rico, casa com ele, tem uma casa grande, uma filha, e a idéia de viver-feliz-para-sempre à la Cinderela. Só que o maridão, Mitch (Bill Campbell) é o tipo de cara machão que a gente encontra muito por aqui, com poder e mil mulheres em cada canto, e ele começa a bater em Slim. Então ela pega a filha de cinco anos e foge. Só que ela não é muito boa nisso, e Mitch acaba as encontrando. Bem, sem querer contar a história do filme, mas já adiantando um pouco do que você pode encontrar nesse filme, Slim resolve parar de fugir e enfrentar o maridão. Esse filme é um dos meus favoritos por ser realista o suficiente, e ter aquela volta por cima que muitas mulheres que sofrem com relacionamentos abusivos merecem.

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Salt – Não é classificado como um filme de ação, mas NOSSA, poderia ser! Com a bocuda da Jolie interpretando Evelyn Salt, esse filme de espionagem é muito bom. É um daqueles filmes que, conforme você vai assistindo, você vai pensando “Puta que me pariu”. Salt é uma agente da CIA acusada de traição e espionagem quando um desertor russo a aponta como sendo uma agente russa infiltrada. Assim, não é a melhor produção de 2010, mas com certeza te prende a atenção, e o fôlego. Apesar do seu marido ter sido seqüestrado por agentes russos, os feitos de Salt vão além do resgate dele, são para o bem maior do país. É aquela marmelada patriótica americana de sempre com uma pitada de paranóia, MAS isso não deixa o filme de fora dos meus cinco favoritos.

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Erin Brockovick – Quando você vê a seguinte frase “Baseado em uma história real”, já começa a pensar que o filme não é lá essas coisas. HAHA, pense de novo. Erin Brocokovick é uma comédia dramática dos anos 2000, que conta a história de – surpresa, surpresa! – Erin, uma mãe solteira, com três filhos, sem qualificações no começo dos anos 90. Interpretada pela eterna Linda Mulher, Julia Roberts, Erin consegue um emprego numa pequena advocacia e acaba se envolvendo em um processo contra uma grande empresa de gás e eletricidade, a PG&E (Pacific Gas and Electricity). Acontece que o que seria um pequeno processo de compra de imóvel acaba se tornando o maior processo de danos na história dos EUA, pois a PG&E acaba por envenenar a população da pequena cidade Hinkley por despejar produtos químicos nocivos nos lençóis freáticos. Erin, mesmo sem um diploma de direito, é quem convence a cidade a realizar o processo e quem convence o seu chefe de que vale à pena ajudar essas pessoas. Tudo isso e tendo que voltar pra casa e cuidar dos seus três filhos no fim do dia; fala que isso não é um exemplo de mulher? Fora que ela é super segura de si, usa roupas apertadas e não tem vergonha de falar o que pensa.

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Histórias Cruzadas – Eu não poderia deixar de acrescentar esse filme nessa lista. Essa adaptação do livro A Resposta conta a história de três mulheres americanas nos anos 60. Uma jovem caucasiana espirituosa que quer se tornar uma romancista tem a idéia de contar o ponto de vista de empregadas negras sulistas do Sonho Americano. Skeeter (Emma Stone) pede ajuda a duas empregadas, Aibileen (Viola Davis) e Minny (Octavia Spencer, que ganhou um Oscar de Mlhor Atriz Coadjuvante com esse papel em 2013), e elas tem que escrever esse romance de não-ficção às escuras, porque o que elas estavam fazendo era contra lei. O filme tem um pouco de tudo, mas está entre meus favoritos porque, além de criticar o modo de vida das pessoas nos anos 60 – e, convenhamos, até a vida de hoje -, mostra que ir contra o sistema pode trazer bons resultados a longo prazo.

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Lógico que eu tenho uma lista imensa de filmes favoritos, mas esses eu tenho perto do coração. Porque não pinta as mulheres como o sexo frágil de sempre. 

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Diário de Bordo: 1º Mês

Coisas que Ninguém me Contou Sobre a Cirurgia.

1 – Tiraram meus pulmões e venderam no mercado negro

Depois que eu saí da cirurgia e fui pra sala do pós-operatório, eu não conseguia respirar. Dois meses com o fisioterapeuta me ensinando a porcaria da respiração cachorrinho mas não tirou um minuto pra me falar como seria difícil respirar depois da cirurgia. Tudo o que ele me disse era que eu precisava exercitar minha respiração para o pós-operatório, pois eu seria intubada na mesa e eu tinha que ter pulmões fortes e blábláblá. Ele bem que podia ter me avisado o verdadeiro perigo da coisa: olha, Stephanie, você corre o risco de ter colapso dos pulmões, e o médico vai injetar ar dentro da sua caixa torácica durante a cirurgia, então vai ser difícil respirar. Agora, vai, mais uma seqüência de vinte. Mas não. Descobri isso quando perguntei pra uma enfermeira porque cargas d’água tava difícil pra respirar.

2 – Dreno: O Alien

Ouvi o médico falar do dreno o tempo todo, o que era e tal, e que eu ia ficar com o dreno por dez dias após a cirurgia. Até aí, beleza. Só que aquela merda incomoda. Uma porra de um tubo saindo de suas entranhas, lógico que incomoda. E muito. Você não consegue dormir direito, porque ele mexe e dói. Você não consegue andar reta porque ele mexe e dói. Você mal consegue fazer o curativo porque ele mexe e dói. Acho que foram os dez dias mais demorados da minha vida.
Sem contar que o meu médico, carinhosamente apelidado por minha irmã e eu de Dr Simpatia, na hora de tirar o dreno, arrancou (!!!!) o curativo, com pontos e tudo, e puxou o dreno sem dó. Olha, ele só não ganhou um soco porque doeu pra caralho.

3 – Comi Um Sapato

Ah, os elogios. “Nossa, você emagreceu tanto!” é o que eu mais ouço. É, valeu, tia, mas não entusiasma não porque isso aqui não veio sem um preço. Acordo todo dia de manhã com a boca grossa e com gosto de pé. Não me pergunte porquê. Acho que tem alguma coisa a ver com o fato de eu não comer nada e minha saliva fica tipo “não vamos trabalhar? Então você vai ver só uma coisa...”. Acho que nunca gastei tanto com Listerine na minha vida.

4 – Virei Bebê

Não sei se eu comentei, mas eu não como. Faz um mês. Não, não se assuste, eu não estou fazendo greve nem to passando fome. Na verdade, eu não sinto fome. At all. Mas eu sinto uma sede desgraçada, e está relacionada ao item 3. Dá-lhe água. Só que, como só com água o corpo não pára em pé, eu tenho que tomar isotônicos (Gatorade, oi) para repor sais minerais, sucos naturais e papinha. É. Papinha. Tipo de bebês. Porque meu estômago, que atualmente é do tamanho de uma tampinha de garrafa, ainda não produz suco gástrico. Por isso, nada de alimentos sólidos. Então, alimentos têm que ser batidos e coados. Papinha.
 Só que papinha enjoa. Não é a toa que tem alguns bebês que cospem papinha na sua cara. Chega num ponto que você olha pra sua refeição batida no liquidificador e pensa “eca, que gosma!”. E não é tudo que eu posso comer, então as opções são meio limitadas, e é onde eu acabo por não comer durante o dia. O que me leva ao próximo item.

5 – Minha Pressão Não Sabe Brincar

Se cair uma caneta no chão, ela vai ficar lá. Porque se eu abaixar pra pegar, minha pressão acha que tá numa montanha russa e vai com tudo pra baixo.
Por falta da ingestão de nutrientes, sais e whatever, eu fico constantemente cansada e fraca (Isso também é um pouco o meu corpo se ajustando à sua nova forma e tal). E minha pressão abaixa com facilidade, o que me deixa tonta, com visão turva e, muito raramente, com as pernas meio bambas. Por isso, eu passo o meu dia todo sentada. Mesmo quando eu não estou fraca, se eu ficar muito tempo em pé, eu começo a me sentir meio tonta e um pouco enjoada. Não que eu tenha nada no estômago pra vomitar, mas mesmo assim a sensação de enjôo está presente.

6 – Novembro, o mês de mil dias

E a sensação de que o tempo não passa? Chezuis, parece que faz um ano que eu fiz a cirurgia, mas não. Fazem trinta e sete dias, só.
Minha próxima consulta é no dia três, e parece que ele não quer chegar. Chega o Natal mas não chega dia 3 de dezembro.

Porque eu quero que minha consulta chegue? Bem, porque vai ser quando o Dr Simpatia vai começar a me liberar pra viver minha vida de novo. Dirigir, me exercitar, e se Zeus quiser, mudar minha dieta. Porque viver de papinha e Gatorade é o ó. 

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Não É O Que Parece

“Nossa, como você... tá forte/cresceu”. Não, eu estou gorda. Pode falar, isso não me ofende. Ser gorda, gay, loura, ou ter vida sexual ativa (vulgo “vadia”) não é ofensa, e se você pensa o contrário, meu amigo, eu tenho pena de você.

“É difícil achar roupa pro seu... tamanho?” É, porque a industria da moda acha que todas nós temos as medidas da Gisele Bündchen. Nem a auto-intitulada “moda plus size” é plus size – gente, calça nº 46 não é plus size, pelamor.

“Você acha mesmo que deveria comer isso?” Eu to com fome, eu tenho condições de pagar comida, e estou com vontade de comer isso, então sim, eu acho que eu devo. Cale a boca.

“Você tem que se amar”. Eu me amo. Quem te passou a idéia do contrário? Só porque a minha bunda é duas vezes o tamanho da sua, não quer dizer que eu me odeio.

“Fico feliz que você tenha decidido fazer a cirurgia, agora você vai se cuidar”. Eu me cuido muito bem. Tenho a saúde perfeita, muito obrigada. Eu decidi fazer a cirurgia porque tenho tendência a continuar engordando, e eu gosto muito da minha coluna. Estou pensando na minha saúde futura; ficar magra é uma conseqüência.

“Mas você não quer emagrecer?” Lógico que eu quero. Toda pessoa gorda sonha em emagrecer, e aquela que diz que “não” está mentindo. Existem aqueles de nós que vão ao médico, fazem dietas extremas, se matam na academia pra perder de cinco a dez quilos. Também tem aqueles de nós que se aceitam, e se amam como são, e são felizes com o próprio peso. Querer emagrecer é uma coisa. Agora, emagrecer é outra completamente diferente.

Ser gorda não me faz doente. Ser gorda não quer dizer que eu tenha um distúrbio alimentar. Ser magra muito menos quer dizer saúde. Do mesmo modo que ser loura não te faz burra, ter tatuagens não te faz um marginal, usar roupas curtas não te faz uma vadia – nem é desculpa pra ser assediada na rua, muito menos está pedindo – ser gay te faz menos humano, ou ser religioso te faz um santo ou pregador.


Então, é, nem tudo é o que parece. Pense nisso da próxima vez que ver uma pessoa na rua que ative o seu modo preconceituoso.